Economia criativa: o que é, quais são as atividades e alguns exemplos

Se você já leu algum artigo do Fagulha Criativa, sabe que a a criatividade, enquanto técnica e recurso estratégico, é nosso tema principal. Sendo assim, seria impossível não abordar um assunto tão importante quanto a Economia Criativa.

Afinal, a junção entre criatividade e mercado é o que pode dar a nós, artistas, novos, melhores e mais justos rumos profissionais, algo que vou defender adiante.

Uma Terça Qualquer, single de estreia do meu projeto Harmotronika. Outras músicas estão em processo de gravação por meio de Lei de Fomento á Cultura, uma das mais poderosas fontes de renda da Economia Criativa.

Neste conteúdo, pretendo evitar jargões e clichês econômicos, até porque estou longe (bem longe) de ser especialista na área 🤯. Também não vou abordar o tema a partir de um ponto de vista “empreendedor” ou exclusivamente empresarial.

A intenção é explicar o que é Economia Criativa e, a partir desse conceito, dar uma dimensão da importância do trabalho criativo, sobretudo o dos artistas. Continue a leitura e faça essa reflexão comigo. Com certeza sairemos dela melhor do que entramos.

O que é Economia Criativa?

Existem vários motivos para separarmos a atividade criadora em um setor econômico à parte. O mais importante deles é que a criatividade está atrelada à Cultura, e esta lida com bens simbólicos e intangíveis.

Isso significa que atribuir valor a atividades culturais, muitos deles abstratos, envolve um processo educacional profundo. Valorizar manifestações culturais, sobretudo em uma sociedade pautada pela competição e pelo lucro, está longe de ser intuitivo.

Em outras palavras, é impossível falar sobre cultura sem tocar nos temas da inclusão social, diversidade cultural e sustentabilidade.

Em segundo lugar, a Economia Criativa abrange a aplicação da Ciência na inovação, o que coloca na sua alçada a tecnologia, uma área estratégica para qualquer setor dentro ou fora da Economia Criativa.

Nesse sentido, a melhor (e também a mais simples) definição de Economia Criativa ainda é a do criador do termo, John Hawkins, em seu livro Economia Criativa: Como Ganhar Dinheiro com Ideias Criativas:

Um processo que se utiliza da criatividade para que seus desenvolvedores possam gerar algum valor econômico.

Atividades relacionadas à Economia Criativa

Repare que a criatividade está presente em qualquer atividade econômica. O que diferencia a Economia Criativa é que ser criativo não é um meio, mas um fim.

Embora o conceito seja amplo, o que normalmente entendemos pelo termo são as atividades tecnológicas e artísticas e, por que não, as duas coisas ao mesmo tempo. Quando arte e tecnologia se unem, o resultado pode ser algo colossal.

Se você duvida, veja os exemplos do Spotify e da Netflix, só pra citar os mais famosos. 👀

Para que a definição não fique vaga, acho que vale a pena nomear algumas áreas que fazem parte da Economia Criativa e seus desdobramentos.

Arquitetura

O enfoque da arquitetura na Economia Criativa é o bloco chamado Espaços de Convivência. Essa categorização é importante, porque envolve o bem-estar em casa, nos ambientes externos e no local de trabalho.

Uma vez que o serviço do arquiteto se relaciona à valorização dos imóveis, ele ocupa um espaço importante no mercado de um país. Por exemplo, a especulação imobiliária, infelizmente, tem o poder de inflacionar o preço dos aluguéis, um baita problema para a economia criativa voltada ao bem-estar.

Pela valorização dos imóveis, a economia brasileira pode se aquecer e exportar suas empreiteiras e engenheiros. Inversamente, problemas econômicos costumam afetar muito mais rapidamente o mercado da arquitetura e da moradia como um todo.

O mínimo que podemos dizer é que a criatividade do arquiteto é estratégica.

Artes cênicas

É curioso notar como trabalhos tão diferentes entre si estão agrupados sob o mesmo rótulo de artes cênicas: Teatro, Dança, Circo e Comédia têm, cada um, uma lógica de mercado específica, mas estão sempre entrelaçados.

Por exemplo, o ofício dos atores pode se ligar ao Teatro e ao Cinema, ao passo que a dança está contida indiretamente em muitos produtos artísticos (como é o caso da música e do entretenimento, por exemplo).

Trata-se de uma cadeia produtiva que emprega muitas pessoas e trabalha com enormes coletivos artísticos multidisciplinares.

Games

Os jogos digitais são, sem dúvida, o setor criativo mais promissor da atualidade.

O que você talvez não saiba é que o que movimenta esse setor é um mercado independente: segundo pesquisa da Fábrica de Jogos, as pequenas equipes de desenvolvedores são formadas, em sua maioria, por microempreendedores individuais.

Eles ganham mais que a média nacional se autofinanciando para lucrar com a venda dos games depois de vendidos. Em plataformas de streaming de jogos como o Xbox Gamepass da Microsoft, os independentes ocupam enorme espaço.

Os jogos indies também empregam outros profissionais da Economia Criativa, como músicos para compor trilhas sonoras e efeitos sonoros, artistas para a criação de cenários e desenvolvimento de personagens.

Mercado audiovisual

Cinema, televisão e publicidade são dominados pelos grandes atores de mercado, mas isso não significa que não haja espaço para pequenas iniciativas.

A produção independente Marte Um, realizada em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte,  foi indicada ao Oscar recentemente. Assim como ela, há diversas obras sendo produzidas por conta e risco de seus idealizadores, embora os custos do audiovisual sejam muito altos.

A exemplo do que acontece com os games, as obras audiovisuais também são multidisciplinares: empregam jornalistas, atores, músicos, bailarinos, produtores, administradores e outros. A cadeia produtiva do setor pode ser comparada, em tamanho, a outras indústrias brasileiras.

Moda

Dentre os temas que relacionamos como fundamentais para a Economia Criativa, a moda parece ter escolhido para si o da sustentabilidade.

O estilista pequeno empreendedor se encontra entre a elaboração de sofisticados conceitos de vestuário e o modismo, lutando para que a sucessão de tendências não resulte em descarte desnecessário de materiais e tecidos, por exemplo.

Essa iniciativa, por si só, cria a demanda por um mercado de moda para além da grande indústria têxtil. Ou seja, é quando o que vestimos torna-se, além de expressão da nossa personalidade, objeto de reflexão ambiental e política.

Tecnologia

O setor de tecnologia faz parte da Economia Criativa, ao mesmo tempo em que é um dos principais propulsores dela.

O conceito de inovação é um dos mais lucrativos da atualidade e, quando aplicado às artes, por exemplo, pode mudar o jogo a favor do entretenimento. Mas é bom ter em vista que não é só a criatividade que depende da tecnologia. A tecnologia também depende da criatividade.

Economia Criativa: alguns exemplos

São exemplos de iniciativas que pertencem à Economia Criativa todas aquelas de dependem exclusivamente da criatividade para gerar lucro e entregar valor.

Ou seja, se você facilita a vida das pessoas por meio da arte, do entretenimento, da tecnologia, da moda, arquitetura ou turismo, você é parte da Economia Criativa.

Confira alguns exemplos:

  • músicos e atores que se apresentam ou dão aulas no contraturno escolar;
  • artistas que desenvolvem espetáculos sobre temas relevantes do cotidiano;
  • desenvolvedores que criam aplicativos que solucionam problemas corriqueiros;
  • gamers que usam sua criatividade para gerar entretenimento;
  • publicitários que escrevem, projetam ou coordenam lançamentos de produtos;
  • profissionais de marketing musical que ajudam músicos a divulgar sua música;
  • arquitetos que têm como função gerar bem-estar por meio dos projetos de casas e ambientes públicos etc.

Como a Economia Criativa gera desenvolvimento

Os conceitos de criatividade e inovação são novidades para as empresas, no sentido de que só há alguns anos eles são valorizados. No campo das artes, no entanto, sempre foram necessários.

Na minha opinião, isso coloca a nós, artistas, na privilegiada posição de especialistas em criatividade. Colocarmo-nos nesse lugar é importantíssimo para vermos nosso trabalho valorizado e reivindicarmos melhores e mais justas condições para atuar.

Ajudando a encontrar nosso lugar em uma cadeia

Melhores no sentido de que oferecem os meios materiais para que toda uma cadeia viva confortavelmente dos rendimentos do seu trabalho.

Ou seja, sem essa de que o artista é um ser iluminado que abnega do conforto em prol de uma causa: a sociedade não apenas tem mercado para o que fazemos, ela está sedenta de criatividade e disposta a pagar pelo serviço.

Desde pequenas comunidades — que desenvolvem-se culturalmente e querem dar voz a seus indivíduos pela arte — até enormes corporações carentes de inovação, há muita demanda pelo trabalho criativo.

Redistribuindo cultura e inovação como um bem estratégico

Não apenas melhores, a formação e as condições de trabalho do artista devem ser mais justas. A criatividade é inerente a todos nós, mas só a alguns é apresentada a oportunidade de viver dela e, como sabemos, isso não tem nada a ver com mérito.

Sendo assim, é preciso desenvolver uma estrutura que não faça distinção de gênero, raça nem marginalize determinados grupos pela sua distância real ou simbólica dos grandes centros urbanos.

Uma economia feita para todas as pessoas e por todas as pessoas.

Espero ter conseguido oferecer um bom panorama da Educação Criativa neste conteúdo. Se quiser mais referências sobre o assunto, clique nos links que estão distribuídos ao longo do texto.

Tirei boa parte das informações deles, e tentei fundamentar bem minhas percepções.

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Jardel Rodrim

Músico profissional, também trabalhou na Publicidade e no Marketing Digital. Atua como artista freelancer tocando guitarra, violão e ukulele, além de participar de gravações como arranjador. Criou o Fagulha Criativa para escrever sobre a importância da criatividade para o mercado musical e artístico.

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