Fagulha Criativa: um espaço para discutir criatividade e estratégia

O Fagulha Criativa tem a ver com o fato de que ninguém se torna artista sem antes aprender a nadar contra a maré. Talvez por causa disso, sempre gostei de pensar sobre a motivação por trás do nosso trabalho: o que leva pessoas como você e eu a querer viver de arte?

Já ouvi inúmeras respostas a essa pergunta, e percebi que não há consenso nem muita certeza sobre as razões por trás desse tipo de escolha.

Houve quem respondesse que não somos nós que escolhemos a profissão, é ela que nos escolhe. Uma amiga acha que é a paixão pela criatividade; outro conhecido alegou ser a empolgação com o processo de criação em si.

Em meio a tantas e tão diferentes respostas, já acreditei e desconfiei de noções como talento, dom, destino, sucesso, fama e predestinação.

Minha história antes do Fagulha Criativa

Cético que sou, me convencem mais os motivos pessoais — ou, ao menos, paixão e sonhos que se pretendem organizados e metódicos para virar realidade. Mas eu dou o braço a torcer: nem tudo na vida são escolhas e nem toda escolha é a gente que faz.

Abaixo, vou contar um pouco da minha história.

Assim, começamos este blog de uma forma mais pessoal, porque acredito que a criatividade tem a ver com descobrir as melhores formas de mostrar quem somos, em vez de nos apegarmos a fórmulas mágicas.

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Capa de “No Ar, Dentro da Caixa”, primeiro e único álbum da banda Chuva a Granel, lançado em 2012

Acho que o ano era 2011, e eu estava envolvido no processo de criação do primeiro álbum do Chuva a Granel. Esse lançamento foi, também, o único da banda e o primeiro trabalho gravado que fiz profissionalmente.

Escolhemos o financiamento colaborativo como fonte de receita para essa empreitada. Entre outras recompensas, vendíamos entradas para o show de lançamento com o objetivo de juntar dinheiro e viabilizar as gravações.

1. A virada de página na vida de músico

Um amigo se recusou a adquirir o bilhete, alegando que o valor pedido era muito alto.

Depois, vim a descobrir que, na mesma época, ele comprou o ingresso para um jogo do seu time de futebol, que havia chegado às finais de um campeonato importante.

O preço era cerca de 15 vezes a contribuição que eu pedia para ajudar no álbum.

É claro que, hoje, eu não tenho ressentimento com o meu amigo por conta disso. Ele tem suas próprias opções de entretenimento e faz suas escolhas.

A chave que eu virei nessa ocasião foi a de que estávamos em busca das pessoas erradas para financiar o trabalho. Ao contrário do que diz o senso comum, não são nossos amigos que vão nos ajudar a dar os primeiros passos na carreira artística.

Talvez essa, por si só, já seja uma afirmação polêmica, mas vou oferecer meus argumentos a respeito.

Não é que os amigos não possam participar do processo. Inclusive, atuando musicalmente, eu fiz mais amizades do que em qualquer outra época da vida, e elas têm sido muito duradouras.

No entanto, devemos dar aos nossos conhecidos o direito de se importar com outros tipos de coisa. Aquele meu amigo não tinha nem de longe o perfil de apoiar uma banda como a minha.

Vai ver eu nem toco o tipo de música que ele curte, e tá tudo bem com isso.

2. Migrando para o marketing digital

Bom, isso é o que eu penso hoje em dia. Confesso que não levei tão na esportiva assim na época.

Fiquei revoltado com as dificuldades que o mercado da música independente nos coloca. De modo arrogante, passei a menosprezar os métodos tradicionais de financiamento de produtos artísticos.

Não dei a devida atenção às leis e projetos de fomento à cultura, nem às diversas modalidades de financiamento colaborativo. Culpei o sistema e tentei reinventar a roda. Hoje bem sei, errado estava eu sobre a maior parte das opções para divulgar música.

Não existe solução que sirva a tudo e todos.

Seja como for, esse rompimento foi importante para me levar a pensar sobre criatividade e marketing.

Muito mais complexas do que eu imaginava, essas áreas escondem um entendimento avançado não apenas do nosso próprio método criativo, mas também da psicologia dos consumidores.

Elas revelaram-se uma fascinante mistura de psicologia de consumo, análises matemáticas e processos que envolvem conteúdo, timing, estruturas e testes.

Enfim, foi por causa do marketing que comecei a refletir sobre como ser músico não basta. A gente precisa dominar um conjunto de habilidades.

Dominar processos para destravar a criatividade, ter uma visão ampla de mercado, se relacionar bem e desenvolver a capacidade de contar nossas histórias — algo que persigo até os dias de hoje.

3. Todos os descaminhos levam a Roma

Durante algum tempo, me senti perdido.

Havia perseguido a carreira musical desde os meus 14 anos, mas me via trabalhando em uma agência de marketing digital.

Minha rotina era lidar com clientes formais, empresas de segmentos que passavam longe das artes — produtores de água para uso industrial, marcas de cachaça, médicos, especialistas em Segurança do Trabalho e escritórios de advocacia, por exemplo.

Era uma luta diária para cumprir prazos vendendo minha criatividade.

O tempo todo fazia comparações com o mercado da música e das artes, mas as diferenças são muitas. Ou seja, acabei mudando o rumo do rio, mergulhando novamente nas águas da arte, cujas correntezas sempre deságuam em algum lugar que chamo de lar.

Nosso produto artístico, muito menos útil (modo de dizer) que uma escova de dente ou um iPhone, era essencial para mim novamente.

Era, em outras palavras, exatamente o que eu queria de novo.

Fagulha Criativa: uma galáxia em expansão…

Nesse ponto, descobri uma Via Láctea inteira onde antes só enxergava vácuo e um silêncio infinito. Monetização, direitos autorais, shows e formação de público puderam ser encarados de uma forma diferente.

Com as ferramentas que descobri na minha incursão pelo marketing de outras empresas, percebi quantas pessoas à minha volta tinham soluções interessantes — embora, por vezes, temporárias e não escaláveis — para esses problemas.

Essa centelha de criatividade acendeu um pavio que precisava explodir.

… precisa de uma supernova em chamas!

E dessa explosão nasceria uma supernova em chamas, cuja luz poderia atravessar a galáxia artística: o Fagulha Criativa. 🎆

Ok, eu me empolguei.

Mas acho que já deu pra ligar os pontos: este texto deveria falar sobre o que é o Fagulha, mas tudo que fiz até aqui foi relatar minhas próprias vivências.

Isso tem um motivo. Este blog, o site, os materiais educativos, as soluções e eventuais consultorias que pretendo oferecer aqui giram em torno de duas coisas: criatividade e estratégia.

É o que de melhor tirei dessas vivências, além da experiência com outros profissionais de marketing digital.

Assim, no Fagulha Criativa, abordamos tanto aspectos técnicos quanto detalhes que fazem diferença para artistas em geral e músicos em particular:

  • metodologias para ajudar na criatividade;
  • técnicas de redação e storytelling para artistas se comunicarem com seus fãs;
  • ideias e conceitos para criar estratégias de marketing, mercado e carreira;
  • o projeto #KsaDeFerreiro, em que aplico tudo isso na minha própria música.

Então, o Fagulha Criativa é tudo isso: discussões, ideias, inspiração, processos, perguntas e respostas. Sobretudo, ele sou eu, Jardel Rodrim, na minha busca por ideias que sirvam para a minha e a sua arte.

Seja bem-vindo e deixe um comentário abaixo, respondendo à pergunta pela qual tudo começa: o que leva você a trabalhar com arte? 💬

Jardel Rodrim

Músico profissional, também trabalhou na Publicidade e no Marketing Digital. Atua como artista freelancer tocando guitarra, violão e ukulele, além de participar de gravações como arranjador. Criou o Fagulha Criativa para escrever sobre a importância da criatividade para o mercado musical e artístico.

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