O que é Impulse Response, pra que serve e como usar

Será que os meus leitores sabem mesmo o que é Impulse Response?

É difícil encontrar algum guitarrista que não tenha ouvido falar dos famosos IRs, mas já percebi que nem todos sabem explicar exatamente o que eles são e pra que servem.

A seguir, vou fazer o que ninguém faz: explicar essa tecnologia do zero. Se você é guitarrista como eu, vai ver que nosso instrumento não é o único a se beneficiar do Impulse Response. Por fim, vou ajudar você a não cometer alguns erros comuns no uso dos IRs.

Antes de continuar, vou deixar meu último lançamento com o duo Harmotronika, pra você escutar. Os IRs foram muito úteis durante o processo de composição dessa música.

Se não quiser ouvir agora, é só clicar em “salvar no Spotify”pra ouvir depois.

A música Uma Terça Qualquer, single de estreia do duo de que faço parte, o Harmotronika.

O que é Impulse Response?

Antes de mais nada, os IRs não são tecnologias feitas só para guitarristas.

Eles podem aparecer em diversos instrumentos e contextos. O que eles fazem é tornar mais prática a forma como um determinado som é produzido, já que, na maior parte das vezes, o Impulse Response permite eliminar algum equipamento bem caro e pesado (como um amplificador, por exemplo).

O termo “impulse response”, traduzido para o português, significa “resposta a um impulso”. Esse impulso é quase sempre o registro sonoro de um equipamento analógico, registro esse que gera uma resposta parecida com o som original.

Achou confuso? Então vejamos um exemplo.

Digamos que você vai tocar violão ao vivo, mas sofre com o timbre artificial do instrumento, quando ele é ligado em linha. Quem nunca passou por isso?

Pois bem. Com o Impulse Response, você pode fazer seu violão soar parecido com um modelo caríssimo da Martin ou da Taylor, só pra citar duas das marcas mais famosas. Ou seja, o impulso daquele timbre no seu violão gera, como resposta, um som bem parecido com instrumentos top de linha.

Normalmente, os Impulse Response são arquivos em formato .WAV executados por pedaleiras mais modernas ou pedais com essa função. Muitos desses pedais, por sinal, são bem baratos. É o caso, por exemplo, do Cuvave Cube Baby, um pedal que ainda tem diversos outros efeitos e funções e custa cerca de 200 reais.

O som do Impulse Response é igual ao original?

Uma pergunta que você pode estar se fazendo ao ler até aqui: “Jardel, o som do IR de um violão Taylor é idêntico ao do próprio violão? E as guitarras? Usar Impulse Response é o mesmo que usar o equipamento original?”

A resposta é: depende.

Existem vários vídeos no YouTube comparando o Impulse Response e o equipamento original sem que se saiba qual é qual. São os chamados “testes cegos” ou “blind tests“.

Ouvindo, eles parecem idênticos, mas há um aspecto que você deve levar em conta: a forma como você interage com o equipamento em tempo real. Pela minha experiência, por exemplo, embora o som seja muito parecido, o amplificador original responde de uma maneira mais dinâmica à minha pegada.

Resumindo: o som é praticamente igual, mas a sensação de quem toca é um pouco diferente. E nesse ponto não dá pra negar, os valvulados ainda são muito mais dinâmicos e gostosos de tocar, porque eles permitem um melhor controle de dinâmica (o quão forte ou leve é o som que você produz).

Pra quem escuta o que você tá tocando, no entanto, a diferença é quase nenhuma.

Se não é igual, então eu não devo usar?

Eu já guitarristas criticando os IRs, mas sempre achei os argumentos meio fracos.

Por exemplo, tem quem diga que, se o som do Impulse Response não é idêntico, é melhor usar o amp original. Bom, se compensa pra você carregar um trambolho de 20 quilos (ou mais) pra todo show e ensaio que fizer, vá em frente.

E já vai se preparando pra ganhar a inimizade do técnico de palco, quando ele perceber que o seu valvulado vaza nos mics da bateria e compromete todo o som da banda toda.

Ainda tem aqueles que se dizem mais “clássicos”, preferindo os equipamentos analógicos. Engraçado como eu já ouvi isso de gente que nunca comprou um amplificador valvulado na vida. E convenhamos, quem hoje em dia tá com 10 ou 15 mil sobrando pra comprar um amp da Fender, Mesa ou Marshall?

Você não é rico. Invista certo seu dinheiro!

Aliás, quando o papo é gastar grana, minha opinião é que você deveria guardar pra gastar mais na divulgação da sua música. Deixe que os equipamentos evoluam ao mesmo tempo em que sua carreira evolui e pare de fazer shows com amplis caríssimos pra ganhar 200 reais de cachê. 😎

Eu imagino que o público desse blog seja de músicos ricos, que têm à sua disposição qualquer equipamento que desejarem. A maior parte de nós tem que batalhar duro cada cachê e, muitas vezes, reinvestir em algo caro e pesado não justifica, dependendo de quanto você ganha por show.

Além do mais, o Impulse e Response e o seu amplificador valvulado não precisam competir. Não é oito ou oitenta. Você pode usar cada opção para um momento diferente. Vou falar mais sobre isso adiante.

Seja como for, a possibilidade de ligar sua guitarra na mesa de som e ter uma resposta próxima a de um ótimo amplificador sem gastar rios de dinheiro é muito prática.

Assim, você pode se dedicar ao que realmente importa: exercitar sua criatividade na guitarra.

Como o Impulse Response funciona na guitarra?

O erro mais comum é pensar que os IRs atuam na guitarra simulando o som dos amplificadores.

Isso é só parte da verdade, já que os amplificadores compõem-se, entre outras coisas, de um pré-amplificador e um autofalante.

O preamp é onde ficam os botões que você gira. É a primeira parte do circuito, em que o som é equalizado. Ali, você pode adicionar volume, tirar ganho, ajustar graves, médios, agudos, presence etc. Essa parte já é bem simulada pelos pedais e pedaleiras há muito tempo.

O problema sempre foi recriar o som de outra parte dos amplis, ou seja, os gabinetes onde ficam os autofalantes. Antes, era muito difícil reproduzir um falante Jensen ou Celestion, apenas para citar os mais famosos do mercado.

Isso mudou com os Impulse Response e sua “fotografia” precisa daquele autofalante, o que é revolucionário.

Além disso, essa “fotografia” também leva em conta a posição em que o microfone estaria captando o falante. É prática dos técnicos de palco mudar o posicionamento para obter timbres mais velados ou abertos no mesmo amplificador, e os IRs permitem escolher até isso.

Ou seja: o Impulse Response tem a ver com o som dos autofalantes, gabinetes e microfones, a parte final de um amplificador de guitarra.

Impulse Response: o que você não deve fazer

Há algum tempo, venho percebendo que é comum os guitarristas utilizarem Impulse Response sem saber exatamente como ele funciona. Isso leva a vários erros no setup e atrapalha na hora de tirar o máximo de som da nova tecnologia.

Listei alguns desses equívocos abaixo. Espero que esta seção ajude a entender que, se o seu som não melhorou com o IR, talvez seja por desconhecimento de algumas regrinhas.

Erro 1: Ligar os Impulse Response usando amp

Se os Impulse Response são simulações de falantes, você não deve passá-los por outro falante ligando no seu amplificador. O sinal deve sair do seu pedal ou pedaleira e ir direto para a mesa ou interface de áudio (passando ou não pelo direct box, o que não muda em nada o som).

Erro 2: Ligar os Impulse Response no Power Amp

Power Amp é uma entrada dos amplificadores que permite que o som da guita e pedais vá direto para o falante, sem passar pelo pré (onde ficam os botões de ganho, volume, graves, médios e agudos, lembra?).

Aqui vale a mesma lógica do tópico anterior. Se passa por um autofalante, não use Impulse Response.

Erro 3: Usar Impulse Response com simulação no computador

Da mesma forma, não tem porque pegar um sinal com IR da sua pedaleira ou pedalboard e passar por um software como Guitar Rig ou Amplitube. O que esses softwares fazem é o mesmo que o Impulse Response: simular o som de gabinetes, preamps ou autofalantes de guitarra.

Como usar o Impulse Response corretamente

Resumindo: os IRs (pelo menos na guitarra) são uma tecnologia criada para substituir um conjunto muito específico do timbre dos guitarristas: aquele da fase final do nosso som, formado pelos gabinetes, alto falantes e o microfone que faz a captação de tudo isso.

Então, se você usa um conjunto de cabeçote e gabinete, como o da imagem a seguir, basta substituir a parte de baixo pelo Impulse Response.

impulse-response-foto-cabecote-gabinete

Se o seu amplificador é um combo, ou seja, se ele tem essas duas partes na mesma peça, você vai precisar usar o send/return para que o som passe pelo pré-amplificador e saia sem ser amplificada pelo gabinete.

Os combos têm este aspecto:

Para os donos de pedaleiras, é bem mais simples: basta usar um dos modeladores de preamp disponíveis e, em vez de acionar um dos simuladores de gabinete, colocar o IR no lugar.

Conclusão

Na minha opinião, o Impulse Response não vai substituir os amplificadores.

O motivo disso é que eles foram criados para situações específicas de uso. Eles não são uma cópia perfeita dos equipamentos, mas chegam bem perto.

Sendo assim, pense nessa tecnologia como uma forma de facilitar os corres de ensaios, shows e apresentações em geral. Se você prefere a maneira tradicional de tocar guitarra, pode, por exemplo, continuar usando os equipamentos analógicos para gravar e deixar o Impulse Response para o show.

Assim, cada coisa tem o seu lugar e você consegue o melhor de dois mundos: praticidade nos corres e aquele som analógico cremoso e maravilhoso nas gravações.

Deixa um comentário aqui embaixo comentando suas experiências com os Impulse Response. Você é fã ou prefere tocar com pedais e amps analógicos à moda antiga? 🙂

Jardel Rodrim

Músico profissional, também trabalhou na Publicidade e no Marketing Digital. Atua como artista freelancer tocando guitarra, violão e ukulele, além de participar de gravações como arranjador. Criou o Fagulha Criativa para escrever sobre a importância da criatividade para o mercado musical e artístico.

2 comentários em “O que é Impulse Response, pra que serve e como usar

    1. Olá, José!

      Sendo o falante um filtro de frequências, se você passar o seu sinal pelo impulse response e pelo amp, ele passará por dois filtros: o do IR, que simula o som de um altofalante, e o do altofalante do próprio amplificador. O provável é que você ache o som artificial, com muitos agudos ou médios. Porém, como tudo nos timbres de guitarra é uma questão de gosto, pode ser que você curta.

      Mas tenha em mente que não é o que se faz normalmente.

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