Marketing Musical: um guia para músicos independentes

Este é um guia de Marketing Musical feito por um músico para outros músicos e musicistas.

Mas é, também, produto do esforço de alguém que trabalha há vários anos com Marketing Digital e Publicidade dentro e fora da música.

Isso significa que boa parte do que vou abordar aqui são ideias e técnicas que já experimentei em diferentes contextos. O meu intuito é ser mais prático que teórico, oferecendo dicas e ideias específicas, daquelas que você pode começar a utilizar agora mesmo.

Para isso, vou partir do pressuposto de que você, que me lê, já tem um trabalho musical mais ou menos consolidado, mas sofre para fazê-lo chegar às pessoas. No Fagulha Criativa, tudo que faço é do ponto de vista de unir criatividade e estratégia.

Se você for um completo iniciante na música, no entanto, não tem problema. Também vai ser possível se beneficiar das reflexões a seguir.

Espero ajudar a aproveitar o pouco tempo e dinheiro que tem pra investir em Marketing Digital. Continue a leitura!

Marketing Musical e música independente

Pouco tempo atrás, os músicos e musicistas nem usavam o termo “marketing”.

Uns preferiam uma palavra mais genérica: “divulgar” o trabalho. Marketing soava algo menos pessoal, menos digno. Entre alguns, ainda havia (e, em alguns casos, ainda há) uma visão romântica de que um bom trabalho se vende sozinho.

Segundo esse raciocínio, Marketing seria algo para as grandes empresas que visam lucro a todo custo, vendem produtos nocivos aos consumidores e agridem o meio ambiente.

Ou pior, como já escutei de alguém: fazer Marketing seria “convencer alguém a comprar algo que não precisa”.

Também já ouvi de um artista que “mídia paga não se aplica a trabalhos autorais. Segundo essa teoria, o autoral teria um apelo mais artístico e menos comercial, sendo melhor divulgado pelo sistema de recomendações das playlists algorítmicas e dos curadores em serviços de streaming como o Spotify.

Eu percebo em todas essas visões — da ideia genérica sobre como divulgar música à ênfase em ações isoladas de Marketing Musical — uma falta de compreensão do todo, da estratégia.

Explico isso melhor a seguir.

O que é Marketing Musical

A melhor definição do assunto é, com certeza, a do pesquisador Philip Kotler, considerado o maior nome dos estudos na área.

Segundo ele, o Marketing é uma ciência criativa que tem como função entregar valor para marcas e produtos, satisfazendo as necessidades de um mercado e gerando lucro. Se há necessidades e desejos não realizados, pode haver Marketing.

Certo, mas como isso se aplica ao seu trabalho musical?

Antes de mais nada, qualquer músico como eu ou você concorda que as pessoas sentem necessidade de música. Ou seja, ela é um desejo universal, configurando-se, portanto, em um mercado a ser atendido.

Ter um mercado desse tamanho é muito importante.

Se você fosse dono de uma fábrica de automóveis, por exemplo — um bem em tese muito mais valorizado que a música — com certeza seria rico, mas teria um público-alvo menor.

Afinal, não é todo mundo que pode ou quer ter carro hoje em dia.

A gasolina e os próprios veículos são caros, há a conveniência de usar Uber, o trânsito está cada vez pior nas grandes cidades, não há onde estacionar… enfim, motivos não faltam para não ter um carro.

Com a música é diferente. O desejo por ela é óbvio e universal, e não são poucos os momentos da vida de uma pessoa em que a música pode se encaixar.

Ou seja, existe mercado pra muita gente na música e, por extensão, em toda cadeia da Economia Criativa de que ela faz parte.

Marketing Digital: praça, produto, preço e promoção

Sempre que você se perguntar como divulgar música, a resposta estará nessas quatro palavras.

A questão é como elas se adaptam à sua realidade financeira e às necessidades dos seus ouvintes. Músicos diferentes têm públicos diferentes, e o seu público nem sempre consome música como você.

É necessário entender como essas relações de consumo se dão nos menores detalhes.

Preço

Sabe quando outros músicos dizem que você deve cobrar mais barato pelo seu trabalho, caso contrário estará prejudicando os colegas? Na minha opinião, isso é verdade só até certo ponto.

O preço é fruto da relação entre oferta e demanda. Se a busca por um serviço é alta, mas há poucas pessoas oferecendo esse serviço, isso resultará, com certeza, em preços mais altos.

Por isso é que o gás de cozinha aumentou tanto durante a greve dos caminhoneiros, por exemplo.

Inversamente, se tem muita gente oferecendo um serviço e pouca gente disposta a contratá-lo, o preço baixa inevitavelmente.

E pouco importa se você se recusar a baixar o seu cachê, porque há muitos outros músicos que vão fazê-lo, não por maldade ou oportunismo, mas porque eles precisam fazer isso.

É difícil ter margem de negociação quando o lucro é pra atender às suas necessidades básicas, e os músicos que vivem da sua arte sabem bem disso.

Compreendendo o preço como resultado da relação entre oferta e demanda, você acaba com a culpa de cobrar mais barato. No entanto, claro, a sua intenção deve continuar sendo receber um valor justo pelo que faz.

Praça

A praça é onde você vende seus shows, música gravada ou outros serviços.

Aqui em Belo Horizonte, onde vivo, ouço um monte de gente falar que “em São Paulo há mais oportunidades”. Eu imagino que deve haver mesmo. Mas também tem muito mais gente oferecendo o serviço de música por lá, o que nos leva de volta à questão da oferta e demanda.

Muitas pessoas são da opinião que é uma boa mirar no interior. Em tese, os interioranos estariam mais abertos à música independente por conta da carência de produtos artísticos locais.

Uma coisa é fato: quando você toca em cidades menores, músicos locais vão te assistir, público de todas as idades sente curiosidade pelo seu trabalho, entidades públicas e privadas pagam cachê e até os custos da viagem para ter sua música.

Se você, que está lendo este artigo, mora em uma cidade pequena, eu tenho uma sugestão adicional.

Aproveite a curiosidade que os artistas da capital despertam e faça uma espécie de intercâmbio com eles. Atue localmente para viabilizar o show deles em sua cidade e, em troca, se apresente junto a eles.

Isso ajuda a gerar mais valor para o seu show, além de ser um networking que pode gerar frutos no futuro. Contato com outros músicos também é Marketing Musical, lembre-se disso.

Quando o público do interior se movimenta para ver artistas de fora, é porque o local tem menor oferta de serviços e, consequentemente, uma maior demanda. Ou seja, praça e preço estão relacionados.

Produto

Eu sei que chamar a música de “produto” soa estranho. Mas essa nomenclatura é muito comum e necessária no mercado. Por isso se fala tanto em “produto artístico”.

É assim que os próprios editais e Leis de Incentivo se referem à música, espetáculos de artes cênicas, livros, quadrinhos e tantas outras obras.

É importante observar de fora esse produto. Temos que nos esforçar para vê-lo como o público vê. Isso pode parecer fácil, mas não é.

A música vem mudando, assim como a forma que ela é consumida. Hoje, as pessoas saem de casa para viver experiências, não apenas para escutar música. Nesse sentido, iluminação, figurino, performance, o roteiro do show e até o posicionamento ideológico dos músicos ganha relevância.

Se você acredita em algo, coloque para fora. Mas faça isso com responsabilidade, ok? Não propague mensagens de ódio com a sua música, pois isso é crime.

Também não tente pegar carona em um posicionamento político apenas porque é moda. As pessoas percebem quando o artista força a barra e o dano que isso causa a uma carreira é difícil de reverter.

Tenha em mente que, assim como as pessoas mudam, a música muda. É desejável que o seu produto artístico esteja em constante desenvolvimento. Isso vai fazer com que as pessoas permaneçam conectadas a ele.

A música não é só um produto estético. Ela tem uma função social.

O Marketing Musical Onlife

O contato com seu público é importante em todos os canais.

Se for possível impactar as pessoas no e-mail, com cartazes, nas redes sociais e nos jornais, você deve fazer. Ouvimos tanto sobre os benefícios de divulgar a música online que fica parecendo que só na internet o Marketing é relevante.

Isso não é verdade.

O que torna o Marketing Digital vantajoso é o preço e a conveniência de medir tudo, saber quanto de retorno cada ação deu.

Por outro lado, quem investe em mídias tradicionais como outdoor ou backbus (aquelas peças veiculadas na traseira dos ônibus) atinge muitas pessoas, embora sem muito critério.

É claro que uma pequena parte do público impactado vai se interessar pelo seu produto artístico, mas a bilheteria dos seus shows, sozinha, não dá muita pista sobre quem pagou e como ficou sabendo.

Ou seja, você gastou muito dinheiro para atingir muita gente de forma pouco criteriosa. Não tem mecanismos objetivos para avaliar a eficiência do seu Marketing.

Hoje em dia, falamos em Marketing Onlife: a construção de um relacionamento com os fãs que acontece tanto no online quanto no offline, passando uma ideia de continuidade. Assim, o resultado de ações no mundo “físico” pode ser medida no digital, por exemplo.

E torna-se possível construir mensagens com coerência, que se complementem entre canais.

O Marketing Musical passa a ser sobre construir e estreitar uma relação com a base de fãs em vários momentos do dia, e não apenas sobre vender música.

Em breve, vou escrever mais sobre isso neste blog.

Canais de Marketing Musical para músicos independentes

Não existe Marketing Digital gratuito.

Se ele não custa dinheiro, toma tempo. E o tempo também é um recurso muito importante pra você. Aliás, quando o dia daquele show de lançamento se aproxima, por exemplo, o que você menos tem é tempo.

Além disso, as redes sociais vão impactar um mínimo de pessoas, se você não impulsionar suas publicações.

Não adianta: vai ser necessário algum dinheiro pra divulgar sua música e, como esse orçamento provavelmente é pouco, também uma estratégia para chegar ao máximo de pessoas com o mínimo de custos.

Veja, abaixo, os melhores canais de Marketing Musical e como ter resultados em cada um gastando o mínimo.

Mídia paga: segmentação precisa

Os anúncios na internet funcionam de uma maneira muito diferente da mídia tradicional.

Eles permitem segmentar o público, o que é a alma do Marketing Digital. Você
atinge as pessoas a partir de sua região, idade e outros dados demográficos, além de por interesses bem específicos, com artistas que seguem, pesquisas no Google e muito mais.

Por exemplo, se o seu trabalho tem uma pegada mais pop, é possível exibi-lo para pessoas
que curtiram a página da Rihanna. Ou da Beyoncé. Ou do Michael Jackson, se você acha
que seus ouvintes são mais velhos.

Achar as pessoas certas para a sua música usando anúncios é duplamente vantajoso: economiza tempo e aproveita os resultados das campanhas para compreender melhor as pessoas que se interessam por sua música.

Se você nunca usou anúncios, eu recomendo que comece. Orçamentos quase simbólicos (como 30 reais por mês, por exemplo) já dão resultados perceptíveis.

Anuncie sua música no Spotify a partir do Instagram, usando o Facebook Ads e seus vídeos no YouTube, com o Google Ads.

E-mail Marketing: comunicação direcionada

Depois que as redes sociais se popularizaram, o e-mail foi sendo gradualmente abandonado.

Músicos e outros profissionais passaram a recorrer a aplicativos de bate-papo como substitutos para as antigas caixas de entrada.

Eu sou da opinião de que o e-mail ainda é uma poderosa ferramenta de comunicação.

Certa vez, participei de uma campanha de financiamento coletivo com um grande esforço de Marketing no Instagram e WhatsApp.

Mesmo assim, na reta final do projeto, a meta parecia muito, muito distante.

Foi então que sacamos a última carta da manga: uma mensagem amigável e objetiva pelo bom e velho correio eletrônico. Em poucos dias, nos surpreendemos com o resultado: essa ação ajudou a virar o jogo e bater a meta de captação do projeto.

O e-mail ainda é muito utilizado em ambientes corporativos ou informais, por pessoas entre 25 e 45 anos, segundo alguns dados disponíveis no Google.

Suas grandes vantagens são o fato de que as mensagens são individualizadas — é possível reter dados dos destinatários e configurar os disparos com base neles — e o nível de atenção que é dado a cada mensagem.

Ela não compete com diversos outros conteúdos, como acontece nas redes sociais.

Como criar sua lista de e-mails

Na situação que relatei acima, os e-mails foram disparados para uma base de contatos formada por amigos e familiares. Embora os resultados tenham superado as expectativas, esse não é o melhor método de fazer E-mail Marketing.

É importante que você crie a suas próprias listas com pessoas que têm interesse real na sua música. E isso você só consegue se essas pessoas consentirem em participar dela.

E como pedir o consentimento dessas pessoas? Simples, ofereça algo em troca. 😉

Por exemplo, no seu próximo show, você pode dar um desconto mediante o preenchimento de um formulário na entrada, a pretexto de conhecer melhor seu público e iniciar um relacionamento mais próximo com ele.

Tenha em mente que, quanto maior a oferta que você faz, mais dados você pode pedir. Ou seja, se o desconto na entrada for grande, dá até pra pedir mais informações dos fãs.

Além disso, há outras formas de montar tipos diferentes de listas, como anotar o e-mail dos seus contratantes toda vez que um novo show for vendido, por exemplo.

A ideia é ter uma lista com cada perfil de contato interessado no seu trabalho, para que a comunicação seja o mais direcionada possível.

Crie uma conta em algum software para configurar esses disparos. Vou sugerir o Mailchimp aqui, por ele ser um dos poucos que tem um plano básico gratuito que permite organizar listas, configurar o leiaute das mensagens, criar formulários e muito mais.

Conclusão

A relação entre música independente e o Marketing Digital pode ser um grande match. ❤️

Afinal, em boa parte dos casos, nossa música não é criada com a intenção de atingir milhões de pessoas. Nosso desejo, com ela, é chegar aos ouvintes certos, na hora certa.

O aspecto subjetivo da nossa arte não precisa ceder totalmente a uma abordagem comercial para conseguirmos viver das nossas criações. O que precisamos é encontrar aquelas pessoas que enxergam valor no que oferecemos e têm como pagar pela experiência de nos ouvir.

É assim que se começa a tirar um sonho do papel. No futuro, quem sabe não será você fazendo shows, viajando e trocando experiências com outros músicos e artistas por aí?

Deixa um comentário aqui embaixo👇🏻contando qual é o seu sonho com a música. Aproveita pra falar também que estratégias de Marketing Musical escolheu para viver esse sonho.

Afinal, sonhar com planejamento é mais gostoso, concorda?

Jardel Rodrim

Músico profissional, também trabalhou na Publicidade e no Marketing Digital. Atua como artista freelancer tocando guitarra, violão e ukulele, além de participar de gravações como arranjador. Criou o Fagulha Criativa para escrever sobre a importância da criatividade para o mercado musical e artístico.

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